quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Epístola de TIAGO - Apresentação


INTRODUÇAO
A epístola de Tiago é um dos escritos mais instrutivos do Novo Testamento. Dirigida principalmente contra erros particulares da época produzidos entre os cristãos judaicos, não contém as mesmas declarações doutrinárias completas das outras epístolas, porém apresenta um admirável resumo dos deveres práticos de todos os crentes. Aqui estão manifestadas as verdades principais do cristianismo, e ao ser consideradas com atenção, se verá que coincidem por inteiro com as declarações de Paulo acerca da graça e a justificação, abundando ao mesmo tempo em serias exortações à paciência da esperança e a obediência da fé e do amor, misturadas com advertências, repreensões e exortações conforme aos caracteres tratados. As verdades aqui expostas são muito sérias e é necessário que se sustentem e se observem em todo tempo as regras para sua prática. Em Cristo não há ramos mortos ou sem seiva; a fé não é uma graça ociosa; onde quer que esteja, gera fruto em obras.

AUTORIA
Tiago - Há três Tiago no N.T.:
·         Lucas 6.14-16. Tiago, filho de Zebedeu e irmão de João (morto em Atos 13.2);
·         Tiago, filho de Alfeu;
·         Tiago irmão de Jesus (Mt 13.55; Mc 6.3) também chamado, Tiago, o menor (Mc 14.40).
O escritor desta epístola é o irmão de Jesus (conforme atribuem alguns historiadores), de grande estatura na primeira igreja em Jerusalém (Gl 2.9). Os historiadores do primeiro século escrevem que Tiago foi um mártir no ano 62 d. C. (Baxter, pg. 283,285).
Tiago está escrevendo "às doze tribos que andam dispersas" (1.1) que eram "irmãos" e ensinou estes como cumprir a lei e serem Judeus completos. Levou tempo para amadurecimento nos Judeus, uma vez que eram Cristãos, a deixarem os traços da obediência da lei como uma obra e viverem só na graça. Tiago os exorta, não de deixar a lei e fazer nada, mas de completar a lei cumprindo o espírito da lei que é aquela obediência que traz louvor a Deus e não opera o aperfeiçoamento do homem diante de Deus.

DESTINATÁRIOS
Tg 1.1 diz que “as doze tribos na dispersão” (do grego diáspora) são os destinatários (cf. 1Pe 1.1).
A quem isso se refere? Porventura os judeus daquele tempo que viviam no estrangeiro, que desde o cativeiro babilônico haviam se estabelecido inicialmente nos países orientais e depois, como vemos particularmente em At, também no Ocidente, em muitas localidades maiores? Contudo, naquela época as “doze tribos” há tempo já não existiam. Desde o cativeiro assírio (722 a.C.) as dez tribos do reino do Norte não existiam mais.
A carta de Tiago é uma carta cristã, ainda que o nome de Jesus seja mencionado expressamente apenas em duas ocasiões (Tg 1.1 e 2.1). Toda a carta está nitidamente impregnada do espírito e da terminologia do Sermão do Monte (cf., p. ex., Tg 1.22 com Mt 7.21,26; Tg 2.10 com Mt 5.19; Tg 2.13 com Mt 5.7; Tg 3.18 com Mt 5.9; Tg 4.5 com Mt 6.24; Tg 4.12 com Mt 7.1; Tg 5.2 com Mt 6.19; Tg 5.12 com Mt 5.34,37).
Igualmente se fala da vinda do Senhor (Tg 5.8), sendo que Tg 2.1 diz quem é o Senhor aguardado. Em Tg 5.14 a comunidade em questão é necessariamente cristã. No grego consta ekklesia. Era assim que se chamavam as igrejas cristãs, mas não as sinagogas judaicas. Logo, não pode tratar-se de um escrito judaico. Mostra-se aqui a vida do grupo trazido ao lar divino por Jesus, seu relacionamento entre si e perante o contexto em que vivia.
Além disso, é levantada a pergunta: seriam apenas grupos cristãos judeus os destinatários da carta de Tiago e, consequentemente, não teria ela nada a ver diretamente conosco, que viemos de povos gentílicos? Em diversas passagens da Escritura nota-se como as pessoas que conforme At 15 se reuniram para um “concílio de apóstolos” (e, em decorrência, o primeiro cristianismo propriamente dito) entendiam a igreja de Jesus Cristo.
a) Pedro escreve a igrejas cristãs, das quais evidentemente também participavam cristãos gentílicos que “outrora viviam na ignorância segundo os desejos” (uma fórmula fixa de condenação dos judeus sobre os gentios da época): “Vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, o povo santo, o povo da propriedade” (1Pe 1.14; 2.9). Portanto a escolha, dádiva e incumbência do povo de Deus do AT (Êx 19.6) valiam agora também para o povo de Deus do NT, a igreja de Jesus formada de Israel e dos povos dentre as nações.
b) Paulo escreve: “Ele de ambos fez um só” (a igreja de Israel e das nações) “e derrubou o muro que separava” (Ef 2.14). Na carta aos Romanos ele declara que os cristãos vindos dos gentios foram enxertados de forma não natural como ramos silvestres na oliveira de Israel (Rm 11.17). O povo de Deus do NT, a igreja de Jesus formada de Israel e das nações, é o povo gerado pelo Espírito de Deus e que serve a Deus (Jo 1.13; 3.3-6; Fp 3.3), formando agora por assim dizer as “doze tribos na dispersão”. Estão no mundo, na diáspora (o mesmo termo grego, tanto em Tg 1.1 como também em 1Pe 1.1), inclusive entre nós, no “Ocidente cristão”.
A multidão assim reunida constitui, já durante a irrupção da era presente (“primícias”, Rm 11.16), a vanguarda da grande e boa soberania de Deus em Jesus Cristo. A ordem das doze tribos de Israel é, até mesmo depois de exteriormente as doze tribos já não existirem, o “quadro”, a moldura para a grande multidão dos que foram trazidos ao lar. Também os cristãos dentre os gentios agora são por assim dizer enxertados nas doze “coroas de ramos” da grande oliveira Israel, e no dia de Jesus Cristo já não faltará nela nenhuma folha sequer. Terá entrado no lar o número pleno previsto por Deus dentre as nações (Lc 21.24; Rm 11.25). No limiar do reino milenar de paz de Jesus Cristo, o próximo grande passo de Deus depois de nosso éon atual rumo à consumação será a salvação, então, de “todo o Israel”, ou seja, Israel como povo (Rm 11.26). Na sequência todos os demais povos também darão honras a Deus (Ap 15.4; cf. 21.3). Veja também abaixo o comentário sobre Tg 4.4s.
c) À semelhança de Pedro e Paulo, também Tiago deve ter considerado a igreja de Jesus reunida dentre Israel e as nações como o Israel da nova aliança, agora transposto para a diáspora. Em decorrência, também nós cristãos dentre os gentios somos, ao lado dos cristãos de Israel, os destinatários diretos da carta de Tiago.

LOCAL E DATA
A data exata é difícil determinar. Uns dizem que foi o primeiro de todos os escritos do N.T. e outros o colocam pouco antes de Hebreus. Josefo (historiador judeu) indica que Tiago foi apedrejado ate a morte por volta de 62 d.C. Então, sendo ele o autor ela foi escrita antes desta data, pelo seu conteúdo, descreve que pode ter sido escrita antes do concilio da Igreja em At 15, que aconteceu por volta de 49 d.C.. Logo temos uma previsão de escrita entre 48 e 62 d.C..


TEMA E PROPÓSITO
Tema: A fé produz obras.
Tiago é muito prático nesta carta e enfatiza o dever ao invés da doutrina, ele escreveu repreendendo à negligência (muitas vezes vergonhosa) de alguns deveres cristãos. Ele analisou a natureza da fé genuína, estimulando os leitores a demonstrar a eficácia de sua experiência do Cristo.
Sua principal preocupação era a realidade e simplicidade na religião, apresentando reivindicações práticas do evangelho.

Mensagem Central
“A verdadeira religião pressupõe uma fé operante e frutuosa, demonstrada por meio da prática habitual, em sinceridade e amor, dos ensinamentos da Palavra de Deus.”

Temas importantes e suas aplicações a igreja atual.
Provação x Tentação – Tiago proclama em alta voz que a provação vem de Deus e deve ser experimentada com alegria, como uma gloriosa oportunidade de revelar a fé do cristão. Esta alegria não advém da prova em si, mas sim da consciência de que ela é um instrumento poderoso para gerar perseverança e para aperfeiçoar o caráter, rumo à integridade e à perfeição. Já, quanto à tentação, Tiago tem um entendimento bem diferente. Tiago enfatiza que toda boa dádiva e todo dom perfeito vem de Deus, que não pode ser tentado e a ninguém tenta, sendo cada pessoa tentada pela sua própria cobiça, que uma vez concebida gera o pecado, que enreda o homem em caminhos de morte. O ensino de Tiago constitui, assim, tanto um estímulo oportuno para os cristãos que estão passando por provas, infundindo confiança nos frutos e na vitória a ser alcançada, como um alerta ameaçador para aqueles que têm cedido às tentações e se excusado das responsabilidades pessoais por seus próprios pecados, culpando abertamente a Deus por sua situação;

A fé prática – Tiago é a mais prática de todas as epístolas e tem sido chamada por alguns teólogos de “Guia Prático para a Vida e a Conduta Cristã”. É o livro de Provérbios do Novo Testamento. Está repleta de preceitos morais e expõe a ética do Cristianismo de maneira visceral. Para Tiago, a fé autêntica tem de ser evidenciada em obras. Ele se opõe resolutamente à tendência comum entre os cristãos de se satisfazerem com uma fé intelectual, acomodada e que faz concessões, procurando tirar o melhor proveito deste mundo e do vindouro. Tiago combate vigorosamente o sistema de salvação baseado na adesão superficial aos dogmas de uma religião, sem qualquer evidência de conversão verdadeira e obediência prática aos preceitos de Deus, principalmente quanto ao relacionamento com o próximo em amor. Numa época em que a Igreja Cristã faz cada vez mais concessões aos valores do presente século, a voz de Tiago soa como um alerta contra a falsificação religiosa e o barateamento do evangelho, conclamando todos os cristãos a uma vida de fé operante e frutuosa, cujas obras glorificam a Deus e testemunham da conversão verdadeira.

A vida cristã – Tiago traz diversas instruções sobre como deve ser a vida diária de um cristão, em qualquer época, a serviço de Deus, em sintonia absoluta com as palavras de Jesus no Sermão do Monte. Ele ressalta que a entrada na vida cristã acontece quando se é gerado pela Palavra da Verdade. Esse é o modo de Tiago expressar o novo nascimento em Cristo. Tendo em vista esta conversão, ele enfatiza a importância das novas atitudes que deverão segui-la, tais como: ser praticante e não apenas ouvinte da Palavra de Deus; assistir os órfãos e as viúvas nas suas necessidades; não fazer acepção de pessoas; refrear a língua; buscar a sabedoria; exercitar a humildade; evitar as contendas; não se omitir de fazer o bem; submeter os projetos pessoais à vontade de Deus; rejeitar as riquezas corruptas; tratar com justiça os trabalhadores; não fazer juramentos; orar pelos enfermos; confessar os pecados; buscar a conversão dos desviados.

Nenhum comentário:

Postar um comentário