VIRTUAL E REAL

Nesta semana, pela enésima vez atendi em meu consultório um casal com problemas, digamos, virtuais.

A história abaixo é falsa, uma espécie de colagem de casos reais, que por ética nunca reproduzo na íntegra aqui (não adianta procurar saber quem é, viu?).

Queixa dele: ela chega em casa tarde (ela retruca que 7 e meia não é necessariamente tarde), eles tomam um lanche rápido, e ela vai para a frente da tevê, laptop no colo.
Ela alega que tem que responder os e mails profissionais, e que, de quebra, quer falar com a irmã que mora longe no skipe, e que, ora bolas, aquele é seu único momento de lazer no dia. Ele fica com sono antes, vai dormir, ela vai dormir mais tarde.

E assim um imenso vácuo virtual toma conta da casa. Eu poderia citar o viciado em dominó virtual, ou a frequentadora de chats que de repente se apaixona por um estranho bem ao lado do adormecido marido, ou ainda os dependentes de Rpg (cito como Top na minha lista deletéria o World of Warcraft, imabatível como rompe-namoros virtual). Eu poderia citar tantas barreiras da web!Todas criadas pelos usuários...

A questão gira em torno do Virtual versus o Real, como se ambos não fossem cenários dos quais VOCÊ é o protagonista. Será que um tem direito mesmo de COMER, literalmente, parcelas do outro? O virtual comendo minha vida real? Será que meu mundo virtual vai mesmo me salvar?

Rendi-me ao smartphone, tenho um laptop leve que carrego por aí. E tenho noção do perigo que estar conectado representa, ainda bem. Agora mesmo posto usando 3G. Mas tenho um IMENSO cuidado com seu uso.

Eu penso: já que eu não sou responsável por nenhuma usina nuclear, então não preciso consultar meus e mails o tempo todo, já que o mundo não explode se eu não reponder a um cara de pau que me manda um e mail de trabalho às 21:30, com o título URGENTE. Urgente é a mãe, eu estou acordada desde as 5 15 e você resolve que tenho que te responder agora??? No way!

Enfim, a medida, se você ficou com peso na consciência ao ler este post, é bem simples: corte pedaços da vida virtual que te atrapalhem, sem dó. Twittar, facebokear, espiar... Tudo é tão legal! Mas será que soma quanto, e o que, à sua vida??

Por:

Maria Rafart nasceu em Curitiba. Psicóloga, mãe, advogada, escritora, Mestranda em Psicologia Forense, co-autora de músicas e comentarista de rádio.

http://www.rafart.com